Processos de seleção de candidatos em ELT podem ser desafiadores para muitos profissionais do ensino da língua inglesa. Há uma gama de dúvidas sobre como criar um CV de destaque e como aumentar as chances de ser selecionado(a). Para contribuir para o sucesso da comunidade ELT convidei uma profissional de grande destaque em nosso meio que irá compartilhar dicas valiosas para estar em uma posição de sucesso nos processos seletivos. Chamo então Cintia Rodrigues!
Bio:
Cintia Rodrigues é professora há 12 anos. Ela é tem MA em Linguística Aplicada (TEFL/UK), Bacharelado em Linguística (USP), CELTA e CPE. Ela é Coordenadora Pedagógica e professora na Seven Idiomas, e Speaking Examiner para Cambridge English. Ela também é membro fundadora da Voices SIG.
(Julio Vieitas)Obrigado por aceitar o meu convite Cintia!
(Cintia Rodrigues) Eu é que agradeço por me escolher!
(Julio Vieitas) Em um processo seletivo, quantos CVS você precisa analisar?
(Cintia Rodrigues) Pergunta difícil essa, porque depende de quantos professores preciso, das necessidades das vagas e do tempo disponível que tenho para preencher essa vaga (que pode variar entre meses e dias). Porém, posso garantir que são muuuuitos. Para cada vaga eu vejo roughly and easily uns 10 a 15 cvs.
Acho que um dos motivos para vermos inúmeros cvs é a quantidade de pessoas que desistem da vaga no meio do processo. Alguns nem ao menos aparecem.
(JV)Quais critérios definem um bom CV?
(CR) Acredito que o primeiro critério para análise de uma CV seja o layout. Se o cv não for bem estruturado, objetivo e clean, raramente continuo olhando. O currículo é a primeira referência que o empregador terá de você (além do corpo do email, claro). Se o layout for difícil de entender, ou muito desorganizado, seu cv vai para a pilha de “talvez”.
Há dois tipos muito diferentes de cv: os de pessoas com experiência e os novos no mercado. Ambos têm chances em qualquer escola, pois os tipos de vagas disponíveis variam de tempos em tempos.
O que eu acredito que seja importante em qualquer cv, independente de sua experiência:
- Contatos atualizados e endereço de email profissional (deixe seu email bonitinho para os amigos e venda seu eu profissional em seu currículo).
Julio, como você reage ao receber um cv com email jujuzinha@hotmail.com?
- Endereço fácil de localizar. Eu sei que há uma grande discussão sobre colocar ou não endereço em currículos, pois muitas empresas deixam de contratar devido à distância do candidato. Porém, no mundo de escolas de idiomas, às vezes buscamos alguém que seja especificamente de uma região ou outra e essas são as vagas vapt-vupt (rs). Digo isso, porque costumam ser necessidades momentâneas e para já.
Darei um exemplo usando SP, pois é onde moro, mas acredito que se aplique a qualquer lugar.
Imagine um coordenador pedagógico precisando urgente de um professor para dar uma aula no Brooklin, zona sul de SP, às 8 da manhã. A vaga acabou de abrir e o curso precisa iniciar amanhã (hahahaha é bem assim mesmo. às vezes imploramos por uma semana para acharmos um bom professor).
Como todo coordenador, eu tenho uma caixa de email lotada de currículos que foram chegando ao longo do semestre e outros bancos de cvs recebidos pelo site da escola. No primeiro pente fino, o que mais me importa é a localização do professor, pois eu não posso contratar alguém que more no extremo da zl para estar no Brooklin às 8 da manhã para uma hora de aula (afinal de contas, esse profissional passará mais tempo indo e vindo do que de fato dando aula). Dependendo da minha urgência, cvs com bairros desconhecidos também são eliminados. Mas o que são bairros desconhecidos? SP tem um número infinito de bairros. Todos esses bairros são associados a distritos ou a algum outro mais conhecido (ex. eu trabalho na Vila Gomes Cardim e já trabalhei na Vila Clementino. Esses nomes não são conhecidos, mas se eu falar Tatuapé e Santa Cruz/Vila Mariana, TODO MUNDO sabe do que estou falando). Não deixe seu currículo ser descartado simplesmente porque desconhecemos a localização. Infelizmente, nem sempre temos tempo de ficar fazendo busca no google.
- Coloque seu objetivo. Mas coloque um ou no máximo 2 objetivos. Uma vez recebi um cv em que a candidata estava interessada em trabalhar em TODAS as áreas da escola. Sem mentira, ela colocou de professora de inglês a vendedora do curso. Ri e coloquei de lado, porque de indecisa nessa vida, já basta eu hahahaha.
- Não minta! Nada mais fácil do que pegar mentiras em currículos. Se não pegarmos na hora, pegaremos na entrevista. Eu juro que já li cv com nome de certificado que não existia (busquei o nome na internet para ver se eu que não conhecia, mas não era o caso). Já vi cvs em que a pessoa colocou um nome de universidade qualquer, sem data, sem curso. Já vi tanta coisa que dá até tristeza de lembrar. Se você acredita que não tem experiência relevante, há maneiras de se fazer interessante sem mentir.
(JV) E aquelas pessoas que não tem experiência profissional razoável, como proceder?
(CR) Durante meu mestrado na Inglaterra, eu fiz parte de um programa de estágio dentro da universidade. Meu papel: Auxiliar pessoas a escreverem um cv UK like. Fazendo isso eu aprendi duas coisas que sempre falo para quem está entrando no mercado:
- Faça uma pequena introdução sobre quem você é e seus objetivos.
- Faça um cv baseado em habilidades (skills) e conhecimentos. Em outras palavras, ao colocar o que você estuda, dê uma breve explicação do curso e do seu papel dentro dele. Se você fez algum estágio remunerado ou não, explique um pouco o que experienciou ao longo desse período. Se nunca trabalhou mesmo, foque nas coisas extras que você fez e no seu interesse em entrar no mercado de trabalho.
Só para exemplificar, em um desses vários momentos de contratação eu recebi 2 cvs de pessoas que estava se formando e não tinham muita experiência na área. Um candidato já havia dado aulas em um projeto da universidade e a outra candidata nunca havia dado aulas em nenhuma situação formal. O primeiro cv continha uma linha falando sobre o estágio na universidade, mas era muito simples e não explicava nada do que ele fazia no centro de línguas. O segundo cv não tinha experiência alguma, mas a candidata se preocupou em colocar que fazia Kung Fu e outras atividades em que participou na universidade. Para cada uma das atividades, ela adicionou uma pequena descrição do que aquilo significava para ela e o papel daquilo em sua vida. Qual cv vocês acham que eu separei?
(JV) Que outras dicas você daria para novatos?
(CV) Para os mais experientes, acredito que o caminho é ser objetivo. Além de todas as dicas acima, é preciso selecionar as experiências relevantes para a vaga em quentão. CV de 4 páginas não impressiona ninguém, muito pelo contrário.
Eu, por exemplo, trabalhei em umas 6 escolas ao longo dos meus 13 anos de professorado. Em meu currículo atual, eu insiro somente 3 delas, de acordo com a relevância da experiência com a vaga que busco.
Por último, deixe claro o que estudou, onde e quando estudou, os certificados que tem, onde trabalhou. Evite incluir experiências de trabalho irrelevantes para a vaga ou vários empregos de curta duração (se você se manteve por somente 1 ano ou menos em uma ou mais escolas, vale a pena informar o motivo da saída).
Peça para alguém verificar se há erros.
(JV) O que não deve ir em um CV?
(CR) Não sei dizer o que não deve ir em um cv exatamente. Eu acho que o mais importante é colocar somente informação relevante para a vaga em que você busca.
Se você está no mercado há muitos anos e já passou por mil escolas, selecione as que são relevantes para a vaga em que você busca hoje.
Acho super legal colocar que participa de congressos e que é membro de associações de professores, mas é totalmente desnecessário fazer uma lista de TODOS os workshops que você participou. Ao fazer isso, você está somente fazendo um cv gigante e nós não vamos ler tudo.
Uma vez, ao fazer uma dessas buscas bestas no google, eu me achei dentro de um CV. Uma pessoa havia incluído um dos meus workshops dentro da área de cursos feitos. Workshops são valiosos e aprendendemos muito neles, mas eles não são cursos e eu até agradeço por ter sido mencionada no CV da pessoa em questão, mas a impressão não é boa. Parece-nos que a pessoa está somente colocando um monte de informação para encher e embelezar o CV. Lembre-se de maquiagem nos faz belas, mas maquiagem demais nos deixa laranja.
(JV) E a entrevista, o que você sugere à candidatos a professores e/ou coordenadores?
(CR) Dica número 1: A entrevista inicia no contato ao telefone. Be kind and polite. Se você não sabe o endereço da escola, peça um segundo, pegue uma caneta e anote. Não peça para o empregador te enviar um endereço com as coordenadas.
Se a vaga te interessa, não questione os métodos do empregador para o próprio empregador no primeiro contato (sim, isso acontece!). It sounds rude e cada escola e cada empregador escolhe a maneira que lhe é mais eficiente para montar um processo seletivo (algo que é longo e cheio de detalhes).
Dica 2: Sorria e seja gentil com TODAS pessoas que trabalham na escola, da recepção ao responsável pela limpeza. Lembre-se: você está em processo seletivo desde o momento em que pisa na escola. Se o candidato conquista o pessoal da recepção, ele já tem mais chances de fazer parte da equipe, pois a opinião deles nos é muito relevante.
Dica 3, mas que deveria ser dica zero: Vista-se bem e não se atrase. Caso perceba que chegará atrasado, entre em contato com a escola e informe o que aconteceu e quanto tempo se atrasará. Todos entendemos que é possível calcular tempo errado ou até errar o caminho quando vamos a um endereço pela primeira vez, mas nossa agenda costuma ser bem lotada. Uma vez que sabemos do atraso, aproveitamos o tempo para terminar de resolver outra coisa garantir que conseguiremos sentar e conversar com o candidato sem interrupções ou pressa.
Dica 4 (que também poderia ser a -1 rsrs): Entenda um pouco da empresa/escola. Todo empregador fica muito feliz ao saber que o candidato tem uma breve ideia da metodologia ou dos cursos oferecidos por eles. Isso demonstra que o candidato está interessado em fazer parte do nosso time. Assim como todo empregador fica frustrado ao notar que o candidato simplesmente jogou seu cv ali, assim como ele jogou para todas as escolas que viu por aí, sem nenhum critério e, talvez, sem nenhum interesse específico.
(JV) Mais uma vez, muito obrigado por separar um pouco do seu tempo para compartilhar tanto conhecimento sobre processos seletivos Cintia. Adorei a sua participação e os seus insights 🙂
(CR) O prazer foi meu!